A falta de profissionais qualificados no mercado de comunicação digital é latente e motivo de reclamação constante entre os empregadores do setor. Vagas demoram a ser preenchidas e, quando finalmente a sorte brilha, outro desafio toma forma: discutir salário.
A lei da oferta e da procura, via de regra, faz inflacionar a remuneração de quem tem bagagem e compreende as particularidades que regem o universo da mídia digital. O problema é ainda pior quando se trata de profissionais mais experientes sondados para cargos que exigem maior responsabilidade.
Visando equilibrar esse cenário e, por consequência, ajudar no crescimento sustentável do mercado, a Associação Brasileira das Agências Digitais (Abradi)acaba de finalizar sua primeira Pesquisa de Cargos e Salários.
Ao reunir dados de agências de todo o Brasil, a entidade espera instituir pontos de partida para que nenhuma das partes envolvidas em uma negociação saia lesada. A entidade prepara ainda a reedição do Censo Digital lançado em 2009 e uma pesquisa sobre os principais serviços ofertados pelo mercado e seus respectivos modelos de contratação. "Hoje vivemos um risco de apagão na capacidade de produção das agências digitais muito em razão da falta de profissionais e da supervalorização dos que estão no mercado. Ter uma referência objetiva de salários pode ajudar a trazer o setor um pouco mais para a realidade", comenta César Paz, presidente da Abradi.
No levantamento foram analisados também os regimes de contratação praticados pelo mercado. De acordo com Paz, foi detectada uma tendência de diminuição no número de profissionais terceirizados e aumento nas contratações com carteira assinada. Além dos salários, a pesquisa levou em conta ainda quais os principais benefícios pagos aos funcionários do setor. O vale-refeição, por exemplo, é oferecido por 74,3% dos empregadores e o vale-transporte por 73,3%. Já a participação nos lucros é benefício concedido em apenas 5,9% dos casos. "Foi bastante difícil organizar os dados e convencer as agências a participarem, mas a tendência agora é que a cada ano a gente consiga revelar qual o retrato atual desse setor", acredita Paz.
Distorções inevitáveis
Segundo Roberta Rivellino, diretora para a América Latina da The Talent Business, os resultados da pesquisa estão condizentes com o que vem sendo visto no mercado embora algumas distorções tendam sempre a aparecer. Para a executiva - que trabalha justamente no recrutamento de profissionais -, o estudo pode ajudar as agências a reterem seus talentos, uma vez que a contratante poderá tomar por base as diferenças entre os valores mínimos e máximos na hora de valorizar a mão de obra formada dentro de casa. "Com esse tipo de referência o empregador pode avaliar o quão perto do máximo ele quer e pode chegar para tentar evitar a constante troca de funcionários. Saber como o vizinho está se comportando só ajuda esse mercado que está em ritmo acelerado de crescimento", acredita Roberta.
O aquecimento do mercado é, inclusive, sentido na quantidade de requisições que a empresa de recrutamento vem registrando nos últimos anos. "Em 2008 apenas 10% das recolocações que fizemos tiveram como destino o mercado digital. No ano passado esse número cresceu para 30%, sendo que a entrada de novas empresas de internet no Brasil não para de acontecer", coloca Roberta. "A falta de talentos, porém, não é um problema exclusivo do Brasil. Além de termos problemas de qualificação por aqui, ainda somos exportadores de mão de obra", acrescenta.
Para essa primeira edição da pesquisa - que levou cerca de sete meses para ser finalizada - foram mapeados os 17 cargos mais recorrentes no mercado e analisadas todas as regiões do País. No total, 120 agências responderam ao questionário, sendo que cerca de 10% delas não fazem parte da Abradi. A proposta é que ela seja repetida todos os anos e inclua funções ainda não analisadas e outras que ainda possam surgir.